domingo, 5 de novembro de 2023

Será?

Quantas vezes eu precisei vir aqui para acalmar meu coração e parti do mesmo jeito que cheguei? Só que dessa vez vai ser diferente… será?

Eu não consigo encontrar palavras bonitas ou talvez ajeitadas o suficiente para descrever como estou surpresa com a simplicidade da vida. Eu estou me sentindo feliz nos últimos meses… 2023 está sendo um ano onde eu pude me reinventar e crescer. 

Eu me sinto como se estivesse amando pela primeira vez. Parece que todas as minhas experiências antes disso foram obsessões e paixões. Mas amor? Amor eu digo com tranquilidade: estou aprendendo a viver agora. 

Calma, eu explico! Lendo meus textos digitais e no papel, sempre comentava sobre expectativas e fantasias, sonhando acordada em um romance dramático e sofrido, onde tudo supera, aguenta as dores e no fim… só o amor não basta. É tudo ultra-romântico. Morrer por amor. Ou pelo que eu achava que era amor.

Agora consigo enxergar a realidade cruel: amor é trabalho. Não dá pra ser tão simples e nem tão complexo. Ele apenas precisa de manutenção e cuidado. Precisa ser regado e compreendido. Precisa ser escutado e falado. Precisa ser vivido.

Eu passei anos da minha vida acreditando saber como os outros se sentiam sobre mim, como se eu pudesse prever e adiantar sentimentos e reações do outro comigo. Eu detinha desse poder e era impressionante como eu nunca errava! Eu dizia que iria embora e a pessoa deixava eu ir! Ela não brigava por mim porque ela nunca se importou de verdade (como eu já desconfiava) e essa era a prova!!! Será?

Precisa de muita coragem para se abrir ao amor, sentimento que uma medrosa jamais consegue desenvolver. É preciso que você realmente solte para poder sentir. Você precisa deixar ir… agora eu entendo essa frase de DEIXAR IR. Eu sempre associei deixar a pessoa ir, que eventualmente ela voltaria! Mas imagine minha surpresa ao perceber que o que tenho que deixar ir são minhas fantasias! Deixe ir, deixa pra lá, esqueça sobre. Fantasias só são reais dentro do universo da nossa mente. Você precisa deixar ir.

Agora eu me sinto realmente perdidamente apaixonada. Perdida no sentido de não saber o próximo passo porque não tenho uma fanfic para me guiar. Se eu quero saber, eu pergunto. Se eu quero receber, eu peço. Se eu estou pensando demais, exponho, explico e recebo compreensão. Você precisa deixar o outro escolher e aceitar a escolha dele. Você não sabe como o outro se sente se ele não comunicar a você. E vice versa. Ele não sabe como você se sente. 

Meu maior medo era que a escolha do outro fosse me abandonar, então eu nunca deixei ele escolher. Era sempre eu decidindo tudo, inclusive minha partida. Tanto medo de ficar sozinha que opta por estar sozinha. Tanto medo do outro não me amar que faço ele não me amar mesmo. Testando os limites das relações pra entender se esse amor é incondicional ou falso. Falso? É! Falso! Não é assim que a mente medrosa funciona? Será?

Eu estou normal. 

E o normal não é se sentir miserável o tempo todo. Normal é um estado onde eu estou bem, nada de extraordinário aconteceu e muito menos uma tragédia. É muito boa a sensação de ser normal, de ficar bem com alguém, de você querer realmente estar com o outro, no mundo dele, no seu e no de vocês. É bom compartilhar a vida sem me preocupar com um abandono imaginário. É excepcionalmente cativante dar e ACEITAR receber em troca o afeto que eu tenho sobrando. É uma delícia transbordar de amor. Eu queria ter escrito esse texto uns 10 anos atrás pra poder lê-lo e ter tido mais empatia por mim. Não consegui me proteger porque estava ocupada demais me machucando com a mesma justificativa. Passei ANOS da minha vida pensando nos dias de hoje com angústia e melancolia e eu finalmente escolhi viver. Eu vou viver. Eu quero viver. 


domingo, 4 de junho de 2023

Esse vai ser o texto mais cru que vou digitar. Eu estou a todo momento no meio das relações porque eu nunca sei o papel que o outro tem pra mim e eu para ele. Eu passei anos construindo uma persona que são fragmentos dos outros, de todos que passaram por mim, pessoas essas que um dia foram como Deus para mim. Eu faço tudo para agradar porque a ideia de não ser amada me corrói e destrói por dentro.

Não só isso, mas e se eu for amada, deixar a pessoa me conhecer e ela simplesmente escolher partir, perceber que eu não sou boa como ela pensou, não sou nada do que aparento ser e ela não aguentar? Eu não suportaria a rejeição. Eu não suporto. Eu vou embora antes desse momento. Tive um insight na terapia esses dias sobre isso. Eu quero muito que o L. me ame e queira me namorar, não porque eu quero corresponder, mas porque pra mim não existe o meio. Ou me ama ou me odeia. Não existe meio termo. Então EU fico no >MEIO< da relação, sem saber exatamente o que eu sou nela e o que o outro é. Eu não quero colocá-lo numa posição onde ele precise ficar comigo porque eu sou demais, extremamente intensa. Já ouvi isso de terceiros, que terminou comigo por isso. E também no meu último relacionamento eu queria tanto não viver que suguei a vida do R. e ele me traiu por isso. Ou pelo menos eu me senti traída, mas eu ainda não o culpo ou o odeio por isso. Eu não deveria ter sido tão tenebrosa e horrível com ele, não deveria estar sucumbindo em depressão, sendo um peso e sugando a vida dele.

Eu tô exausta de parecer bem e me sentir bem, mas ter essas recaídas de humor, como se estar bem ou não dependesse de todo mundo, menos de mim. Eu tô tão cansada de sempre estar ali pra todo mundo e ser tudo o que precisam, de ser depósito emocional e de porra e simplesmente não passar disso. Eu consigo ser o que quiserem e precisarem de mim. Eu sou disponível. As vezes eu queria que minhas fantasias fossem reais, que existisse alguém igual a mim, que não desistisse, que fizesse tudo o que eu quero, não me sufocasse e não me colocasse em uma posição de reciprocidade. Nem todos meus amigos são realmente meus amigos, principalmente homens.

Eu queria que brigassem por mim.

Eu queria que quando eu dissesse que vou embora, não deixassem, eu queria que lessem nas entrelinhas como eu faço. Eu queria que me conhecessem de uma forma onde eu não pudesse manipular nenhuma situação para eu ser a vítima. Porque eu definitivamente não sou. 

Construí uma base sólida nos últimos meses, parece que finalmente comecei a viver, depois de 24 anos eu finalmente to vivendo do 0. É bizarro porque a sensação é exatamente essa: eu nasci. Eu renasci das sombras, do caos, eu lutei pra sair de um buraco e vazio sem fim pra construir algo novo com quem eu faria qualquer coisa por afeto anos atrás. Mas é tão injusto porque me causou danos que parecem irreparáveis e eu tenho que lidar com isso sozinha, porque eu não sei como caber nas relações sem parecer que tô sempre no meio. Eu queria uma amiga, um pai e afins. Eu queria ter tido um passado melhor, eu queria que eu não precisasse de análise e medicação e emprego e tudo pra poder me sentir um pouco normal, eu não queria escrever o tempo todo porque eu não me sinto confortável em falar com ninguém. Eu queria ser normal.

Eu me sinto um poço emocional, como se tivesse um vazio sem fim e eu preciso que preencham ele por mim, eu preciso viver por alguém porque ninguém nunca viveu por mim, eu nunca fui o suficiente para ninguém. Nem pro meu pai. Nem pra ninguém. Não sou o bastante pra curar o alcoolismo, não fui o bastante pra fazer minha mãe me perdoar por arruinar o corpo dela e ter uma maternidade de novo. Eu tive que assistir ela maternar minha prima mais nova e dar toda a atenção que ela era muito ocupada para me dar. Eu sempre tenho que abrir mão de tudo. Eu sou muito fácil.

Eu nunca vou ter nenhuma relação saudável.

Vou passar a vida inteira pulando de pessoa pra pessoa com medo.

E tentando melhorar porque não vou morrer sem lutar.

Eu não quero morrer.

Eu só não queria ter nascido.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Uma nova jornada

 



Faz um tempo que sinto que finalmente estou começando a viver fora do trauma. Demorou cerca de 10 anos para: descobrir o que é o trauma, perceber que tenho um trauma, admitir que é um trauma, lidar com o trauma e... viver além dele. Não me precipito em escrever que superei o trauma. Nem tudo é para ser superado ou curado. 
Eu raramente escrevo sobre estar feliz, parece muito... falso. Desde os 11 anos escrevo sobre a tristeza como o único sentimento que me deixava realmente feliz. Lendo esses textos antigos eu me sinto muito esquisita, porque eu não tinha NOÇÃO do que era estar mal, mas conseguia dissertar sobre como se fosse minha realidade na época.
Agora para começar os desabafos vamos voltar para minha infância: Eu sempre fui sozinha. Meu pai trabalhava muito, minha mãe não tinha tempo para mim e meus irmãos me odiavam. Eu sempre fui superprotegida então não podia sair de casa para brincar (a não ser pra ir até a minha vizinha M., mas voltaremos com isso mais pra frente) e dependia de alguém vir me visitar (o que não acontecia com frequência). Passei anos jogando jogos de tabuleiro, brincando de secretária, boneca e afins... sozinha. Uma frase que vive na minha cabeça de graça do filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é: "as pessoas não fazem ideia do quão solitário é ser criança". Não é a toa que a psicanálise acredita que tudo começa na infância.
Eu sentia muito a falta de ter alguém, porque era como se eu fosse invisível e indesejável, eu ouvia coisas como "você fala tanto que não consigo ouvir meus próprios pensamentos" ou era cantado pra mim "sai da minha aba sai pra lá, não vê que eu não quero mais você". Lembro de ter pesadelos onde minha mãe me abandonava na rua ou simplesmente preferia a M. do que a mim. Sempre acreditei que minha mãe preferia qualquer pessoa à mim. 
E crescer pensando que eu sou insuportável não me ajudou nos meus relacionamentos. Aliás, não me serviu de nada. É estranho escrever e reviver essas coisas porque atualmente eu não me sinto mais assim. Meu irmão me adora e sempre faz questão de estar perto de mim, de falar comigo. Minha irmã também, mas ela eu me aproximei mais cedo. A última da lista foi minha mãe... era difícil compreendê-la e foi mais difícil ainda lidar com o fato de que eu poderia NÃO QUERER ela na minha vida e odiá-la profundamente, porém a criança dentro de mim estava sentada no chão, chorando e pedindo colo dela. querendo ser vista, amada. Depois disso foi uma luta até aceitar que eu não poderia viver para sempre querendo ter TIDO algo, querendo ter um passado melhor e lamentando não poder voltar e viver tudo diferente. As vezes só podemos aceitar o que temos. E, acreditem, é ótimo.
Sou analisada há 5 anos, mais ou menos, e me formei em psicologia também. Muitas pessoas comentam sobre eu ser louca e psicóloga, que não faz sentido nenhum. Eu já acredito que faz TOTAL sentido. Eu sei como é ser paciente, eu sei como é tomar medicação e querer simplesmente desistir de melhorar, eu sei como é ter recaídas e eu também sei como é querer ir de arrasta pra cima. O negócio é que eu sou constante em lutar contra tudo isso única e exclusivamente porque eu mereço. Eu não quero me sentir amada porque eu sou amada. Eu só preciso permitir o afeto do outro do jeito que o outro pode me dar e não da forma que eu inventei na minha cabeça. As fantasias de afeto são perigosas para mentes conturbadas pelo desejo de desejar.
Quero começar uma série nesse blog, pelo repaginá-lo porque eu adoro escrever e quero compartilhar como está sendo meus dias de melhora. Demorou 10 anos para eu finalmente sentir que eu posso estar feliz, que eu posso me relacionar, que minha mãe me ama. A minha mãe me ama. Eu sou amada.





terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Sobre o luto

 






Ultimamente estou sendo bombardeada com assuntos como: morte, luto e etc. Alguns deles eu mesma procurei, outros chegaram até mim sem aviso prévio. Eu sinto como se ficar triste sobre alguém que já morreu não é uma boa forma de encarar a despedida. Passei anos da minha vida tentando fugir do sentimento de que... essa pessoa não vai voltar, eu nunca vou poder ter um relacionamento com ela e todo nosso relacionamento existe apenas na memória dos outros (pois eu sequer me lembro).

Eu conquistei tudo o que eu queria anos atrás, coisas que eu acreditava serem impossíveis de conquistar, única e exclusivamente porque eu não queria admitir que precisava disso. Não importa o quanto eu tentasse fugir disso, minha criança interior estava chorando querendo colo. Ela merece colo.

Mas o texto não é sobre isso, a verdade é que: Eu nunca fiquei triste pela morte do meu pai. E na minha família isso é bom, mostra que você é forte e consegue seguir em frente. Mas eu sofro as consequências de um luto que nunca começou. Eu pensava que a raiva que eu sentia vinha todas do mesmo lugar e sempre culpei uma pessoa específica por ter me magoado. Porém eu sinto como se eu não fosse o suficiente e nunca serei. Ele escolheu o álcool a ficar comigo. Ele escolheu morrer a me ver crescer. E eu fiquei aqui tendo que lidar com o fato de que ele não existe mais. E mesmo que eu fiquei triste ou com raiva dele, não tem como falar sobre com ELE e consertar essa relação sabe? Não tem como eu decepcionar ele e depois lutar pelo orgulho dele. Não posso me rebelar contra ele. Ele não existe.

O que talvez mais me magoe é a inveja que eu tenho da minha irmã por ter tido tempo com meu pai... e ter tido um pai. Quando desabafei com a minha mãe sobre isso, ela me disse que ele tinha muito orgulho de mim, que eu falava e queria explicar as coisas e talvez por isso tenha virado psicóloga. Fiquei com os olhos cheios de lágrimas, mas não tive coragem de fazê-las escorrer pelo meu rosto naquele momento, não queria que minha mãe pensasse que sou fraca. Mas eu queria saber sobre essas coisas e não tenho coragem de falar sobre ou de simplesmente ADMITIR para eu mesma que eu QUERO muito isso. O que meu pai pensaria sobre mim? Será que ele... me amaria?

 Como eu posso sentir a falta de alguém que eu não conhecia? Alguém que eu não tive a chance de conhecer? Queria ter tido mais TEMPO, queria que ele não tivesse planejado a vida só até os 50 anos e queria ter sido motivo o suficiente para ele lutar... Ou talvez ele estivesse me poupando de cuidar dele... Nunca vou saber os reais motivos dele, mas eu sinto que... Eu sou toda quebrada porque tive que lidar com muitas perdas e NUNCA tive coragem de admitir que algo me afetou profundamente, que doeu em mim, que eu preferia não ter passado. Não queria ser forte, queria ser humana.