terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Sobre o luto

 






Ultimamente estou sendo bombardeada com assuntos como: morte, luto e etc. Alguns deles eu mesma procurei, outros chegaram até mim sem aviso prévio. Eu sinto como se ficar triste sobre alguém que já morreu não é uma boa forma de encarar a despedida. Passei anos da minha vida tentando fugir do sentimento de que... essa pessoa não vai voltar, eu nunca vou poder ter um relacionamento com ela e todo nosso relacionamento existe apenas na memória dos outros (pois eu sequer me lembro).

Eu conquistei tudo o que eu queria anos atrás, coisas que eu acreditava serem impossíveis de conquistar, única e exclusivamente porque eu não queria admitir que precisava disso. Não importa o quanto eu tentasse fugir disso, minha criança interior estava chorando querendo colo. Ela merece colo.

Mas o texto não é sobre isso, a verdade é que: Eu nunca fiquei triste pela morte do meu pai. E na minha família isso é bom, mostra que você é forte e consegue seguir em frente. Mas eu sofro as consequências de um luto que nunca começou. Eu pensava que a raiva que eu sentia vinha todas do mesmo lugar e sempre culpei uma pessoa específica por ter me magoado. Porém eu sinto como se eu não fosse o suficiente e nunca serei. Ele escolheu o álcool a ficar comigo. Ele escolheu morrer a me ver crescer. E eu fiquei aqui tendo que lidar com o fato de que ele não existe mais. E mesmo que eu fiquei triste ou com raiva dele, não tem como falar sobre com ELE e consertar essa relação sabe? Não tem como eu decepcionar ele e depois lutar pelo orgulho dele. Não posso me rebelar contra ele. Ele não existe.

O que talvez mais me magoe é a inveja que eu tenho da minha irmã por ter tido tempo com meu pai... e ter tido um pai. Quando desabafei com a minha mãe sobre isso, ela me disse que ele tinha muito orgulho de mim, que eu falava e queria explicar as coisas e talvez por isso tenha virado psicóloga. Fiquei com os olhos cheios de lágrimas, mas não tive coragem de fazê-las escorrer pelo meu rosto naquele momento, não queria que minha mãe pensasse que sou fraca. Mas eu queria saber sobre essas coisas e não tenho coragem de falar sobre ou de simplesmente ADMITIR para eu mesma que eu QUERO muito isso. O que meu pai pensaria sobre mim? Será que ele... me amaria?

 Como eu posso sentir a falta de alguém que eu não conhecia? Alguém que eu não tive a chance de conhecer? Queria ter tido mais TEMPO, queria que ele não tivesse planejado a vida só até os 50 anos e queria ter sido motivo o suficiente para ele lutar... Ou talvez ele estivesse me poupando de cuidar dele... Nunca vou saber os reais motivos dele, mas eu sinto que... Eu sou toda quebrada porque tive que lidar com muitas perdas e NUNCA tive coragem de admitir que algo me afetou profundamente, que doeu em mim, que eu preferia não ter passado. Não queria ser forte, queria ser humana.