quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Sexo, rejeição e abandono

 
 
Eu sempre me orgulhei de lembrar dos meus sonhos. Quando perguntava aos meus amigos sobre os deles, me surpreendia em sempre ouvir "não lembro" e pensar "nossa, mas como assim ele não lembra?", como se fosse incomum não ter lembranças. Percebi que a maioria das pessoas que converso ou não lembram ou não sonham de jeito nenhum e eu  me achava especial por ser diferente. Até agora. 
Depois de acontecimentos recentes, uns 6 anos pra cá eu comecei a perceber que meus sonhos eram recorrentes e que os meus medos eram sempre os mesmos, mas só depois de iniciar a faculdade e começar a fazer terapia que tudo ficou muito claro. Eu tenho MUITO medo.
Todos os meus pesadelos possuem algo em comum: abandono, rejeição e sexualidade. Como se essa trindade fosse interligada e refletida na minha vida de diversas formas (que não vem ao caso agora). O sexo aparece como algo impossível, inalcançável ou proibido. A rejeição é sobre não ser amada, desejada e trocada. O abandono vem com a despedida dessa pessoa que ao me ter (sexualmente) percebe que não valho a pena.gente Isso me despertas memórias.
Segundo Freud, sonhos são manifestações do inconsciente, lugar onde tentamos realizar os desejos que não são suportados na consciência, mas que aparecem de forma maquiada, simbólica. Perceber esses sinais, traçar padrões, nos levam a um melhor entendimento de nós mesmos, o que me leva as minhas memórias, pensar nos meus medos mais profundos, inseguranças e tudo o que pode atormentar uma menina, adolescente e mulher.
Quando criança eu sempre sonhava que minha mãe me abandonava na rua ou preferia uma amiga minha como filha do que eu. Quando mais velha eu via meu namorado terminando comigo. Hoje em dia eu sonho com minha mãe, mas dessa vez são olhares de desprezo, que me paralisam e eu já sei: não sou amada e mais uma vez sou rejeitada. Sonho que tenho relações sexuais com pessoas e logo em seguida me contam que preferem outras pessoas que eu, então "terminam" comigo.
Isso reflete nos meus relacionamentos da vida real, como se a única forma de afeto vindo do outro precisasse ser sexual e, mesmo eu não tendo a intenção de firmar esse contrato, eu necessito ser desejada. E esse desejo carnal me faz questionar se é somente para isso que eu sirvo e, mais uma vez, me vejo sento rejeitada. Mas também antecipo o abandono e parto, me vejo indo embora, deixando para trás qualquer possibilidade de ser abandonada. E sofro com a perda.
O quão problemático é chegar na vida adulta sem saber se relacionar sexualmente? Como é não se sentir esquisito o tempo inteiro quando se trata de sexo? De que forma o sexo e o abandono estão interligados e o quanto essa pergunta me assombra? 
As vezes eu me pego refletindo sobre o que eu desejo e me vejo em um labirinto, como se eu fosse um rato, porém não tem nenhum queijo para me motivar a sair daqui. Estou assustada e não consigo me mexer. Eu machuco outros ratos que passam aqui porque eles querem me ajudar ou porque eles tem seu queijo. Eu queria ter um queijo. Eu queria ser o queijo. Eu queria...
O autoconhecimento é como um quarto escuro, tudo o que você precisa é acender a luz, mas você tem coragem de levantar?

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